Manual da Alimentação da Lactante e do Primeiro Ano do Bebê

O nascimento do primeiro filho sempre gera muitas duvidas e ansiedades. Confira aqui um manual completo sobre a Alimentação da Lactante e do Primeiro Ano do Bebê:

 

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Primeiro vamos deixar claro a diferença entre Lactante e Lactente:

Lactante: É a mulher que amamenta
Lactente: É quem está sendo amamentado

 

Pronto, se passaram os nove meses, tempo em que a mulher teve cuidados com a alimentação e agora que esta amamentando, não será diferente. Período de amamentação e dieta nova não combina. Os bons hábitos adquiridos na gravidez devem permanecer. Uma dieta rica em frutas, verduras, grãos, cereais integrais e alimentos que sejam fontes de proteínas, cálcio e ferro, nunca devem ser dispensados, em qualquer fase da vida da mulher, principalmente nessa onde a alimentação do seu bebe depende do seu leite.

Período de amamentação e dieta nova não combina. Os bons hábitos adquiridos na gravidez devem permanecer

Nesse período, é comum a mulher sentir mais fome do que o normal, já que o seu corpo esta tendo que produzir o leite. Por isso, é importante saber o que deve comer para que o aleitamento materno transcorra com tranqüilidade e qualidade, pelo menos até os seis meses de vida da criança.

 

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a produção de leite requer um gasto energético considerável

As necessidades nutricionais, durante a fase de lactação, são consideradas maiores do que na gestação, já que essa alimentação visa a manutenção da saúde da mãe e a produção de leite humano em quantidades suficientes e com adequada concentração de nutrientes.

Na fase da amamentação, a produção de leite requer um gasto energético considerável. Para a produção de 100 mL de leite, que significam, aproximadamente, 65 calorias, a lactante gasta cerca de 85calorias. Devido a esse gasto energético, a mulher que está amamentando necessita de um aporte maior de energia.

Energia:

As recomendações mais recentes sugerem que se utilize a EER (necessidade energética estimada) para a lactante segundo sua faixa etária, com um adicional de 500 kcal/dia para os primeiros seis meses de lactação.

Proteína:

As necessidades protéicas aumentam em proporção com a produção de leite. Para as mamães, a necessidade protéica seria de 1,3 gramas de proteína/kilo/dia ou um acréscimo de 25 gramas de proteína por dia.

Água e líquidos:

Vale lembrar que, qualquer bebida alcoólica, inclusive cerveja preta, não é recomendada durante o período de lactação para evitar alterações de comportamento da criança

A recomendação de ingestão de água e outros líquidos, como sucos e chás, podem chegar a 3,8 litros ao dia. A prática de atividades físicas e o aumento da temperatura ambiente poderão aumentar ainda mais essa necessidade recomendada, o que deverá ser avaliado individualmente. Vale lembrar que, qualquer bebida alcoólica, inclusive cerveja preta, não é recomendada durante o período de lactação, para evitar alterações de comportamento da criança, bem como outros efeitos tóxicos orgânicos.

Resumindo…

A elaboração de um plano alimentar lactante deve basear-se nas seguintes práticas:

A perda de peso da Lactante ão deve ser o objetivo nesse período

Atender as necessidades nutricionais da nutriz (RDA ou AI), considerando o suficiente para atender a demanda energética, aumentada de 500 kcal adicionais ao dia. A perda de peso não deve ser o objetivo nesse período, pois pode comprometer a produção de leite.

A alimentação deve conter todos os grupos alimentares:

  • Leite e derivados para adequado suprimento de cálcio;
  • Proteínas de Alto Valor Biológico (peixes, carnes magras, grãos);
  • Vegetais e Cereais Integrais, levando-se em conta os hábitos alimentares.
  • Restringir o consumo de bebidas e alimentos com cafeína: café, refrigerantes, chocolate, chá mate;
Cálcio

Encotrado em legumes verdes, gergelim preto (tem oito vezes mais cálcio do que leite, o ideal é ingerir duas colheres de sopa por dia), produtos de soja, tofu, figos ou tâmaras.

Iodo

Encotrado em peixes de água salgada e sal de cozinha iodado.

Proteína

Encotrado em ovos, carnes e cereais. Leguminosas e laticínios também contêm proteínas, mas devem ser evitados, em caso de flatulência.

Gordura

A gordura deve ser ingerida sim, mas apenas de alta qualidade, por exemplo, em óleos prensados a frio.

Frutas e legumes

Frutas e legumes são bons também para consumos crus. Frutas cítricas, kiwis, morangos, tomates, pimentões e alguns sucos não são indicados pois podem causar dor na evacuação do bebê.

Alimentos que estimulam a produção de leite

Alguns alimentos estimulam a produção de leite, como compota de damascos, sopa de carne bovina ou aves com ovo, sementes de abóbora com mel, são bem vindos. Aumentar a quantidade de alimentos com fontes de ferro, após o retorno da menstruação, também é recomendável. Após a suspensão da amamentação, um plano alimentar deve ser realizado, visando repor a reserva de nutrientes utilizados nesse período.

 

 

Primeiro ano de vida e a alimentação

 

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Durante os primeiros 4 a 6 meses de vida, a alimentação vai ser exclusivamente baseada no leite materno, o que visa à saúde do bebe e também propicia um vínculo afetivo muito forte.

Nos primeiros 4 a 6 meses de vida, a alimentação vai ser exclusivamente baseada no leite materno

O leite materno é excelente no que diz respeito à composição alimentar, pois tem todos os nutrientes de que o bebé necessita. Além disso, o leite materno irá proporcionar também ao bebé as defesas necessárias para lutar contra as infecções.

Isso sem contar que esse alimento sempre estará disponível a uma temperatura ideal e em qualquer momento. Ao sugar o seio materno, o recém-nascido faz esforço com os músculos da face para extrair o leite do peito, o que estimula, desenvolve e fortalece suas estruturas orais (lábios, língua, bochechas, ossos e músculos da face).

A OMS propõe as seguintes recomendações:

  • Aleitamento materno exclusivo: quando a criança recebe somente leite materno, diretamente da mama ou extraído, e nenhum outro líquido ou sólido, com exceção de gotas ou xaropes de vitaminas, minerais e/ou medicamentos.
  • Aleitamento materno predominante: quando o lactente recebe, além do leite materno, água ou bebidas à base de água, como sucos de frutas ou chás.
  • Aleitamento materno: quando a criança recebe leite materno, diretamente do seio ou extraído, independentemente de estar recebendo qualquer alimento ou líquido, incluindo leite não humano.

 

São poucas as contra indicações absolutas ao aleitamento materno, 9,10,11 que podem ser consultadas no site da Sociedade Brasileira de Pediatria – Departamento Científico – Aleitamento Materno www.sbp.com.br.

 

Quando a mãe não puder estar presente para amamentar seu filho, uma alternativa é a oferta de leite materno previamente extraído manualmente ou por meio de bomba esterilizada, preferencialmente no copo ou às colheradas, evitando o uso de mamadeira.

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uma alternativa é a oferta de leite materno previamente extraído manualmente ou por meio de bomba esterilizada

Nessa situação, o leite materno deve ser armazenado em frasco de vidro, com tampa plástica, limpo e esterilizado por meio de fervura por 15 minutos e seco de boca para baixo sobre pano limpo.

O tempo de armazenamento recomendado é de até 24 horas na geladeira, 15 dias no congelador da geladeira.

Após o descongelamento deve ser consumido em até 24 horas e mantido na geladeira. Antes de fornecer o leite à criança, agitar lentamente o vidro para uniformizá-lo e aquecê-lo em banho-maria sendo contra indicada a fervura.

 

Se por algum motivo a criança não puder ser amamentada ou receber leite materno extraído, ela deve receber um substituto para garantir a oferta nutricional adequada. Existem diferentes recomendações e possibilidades que devem ser planejadas caso a caso e indicados por um profissional.

Após a recomendação é o momento de fazer um teste para saber se o bebê se adaptará ao leite. São necessárias várias tentativas, pois, inicialmente, alguns bebês podem apresentar manifestações de constipação passageiras, sem maior importância.

 

Os Leites tipo “1” (Nan, Nestogeno, Aptamil, Similac e Bebelac) são bem parecidose possuem os nutrientes necessários para os bebês.

Os Leites com “Prebióticos” (Aptamil1 e NanConfort 1 com Prebióticos), são boas opções para os bebês que ficam ressecados, pois regulam o intestino.

Os Leites tipo “HA” (Miltina HA, Nan HA 1, Nidina HA 1 e Aptamil HA 1) são hipo-alergénicos. Indicados para lactantes com história familiar de alergia, na tentativa de que diminua a possibilidade de aparecimento de alergia às proteínas de leite de vaca. Não deve ser usado caso haja a confirmação de alergia às proteínas de leite de vaca.

Os Leites hidrolisados de proteínas (Pepti Junior) são indicados para lactentes com alergia às proteínas do leite de vaca, em caso de desnutrição ou para lactantes que tenham passado por cirurgia. Este leite deve ser prescrito pelo médico.

Os Leites tipo “AR” (Nan AR, Aptamil AR) são Anti-Regurgitante, portanto, de fácil digestão. Indicado para os bebês que tem refluxo.

Os Leites de Soja (NanSoy, Aptamil Soja 1) são à base da proteína isolada de soja. Indicado principalmente para lactantes com alergia à proteína do leite de vaca.

 

Leite de Vaca Integral LVI

O consumo do leite de vaca vem sendo associado ao aparecimento da anemia ferropriva e, além disso, o ferro do leite de vaca não é bem absorvido pelo organismo do lactente.

Outro fator agravante que contribui o aumento do risco de deficiência de ferro e anemia no 1o ano de vida é o fato de que o consumo de leite de vaca está associado à perda de sangue pelas fezes de uma maneira despercebida pelas mães e cuidadores.

O consumo do leite de vaca vem sendo associado ao aparecimento da anemia ferropriva e, além disso, o ferro do leite de vaca não é bem absorvido pelo organismo do lactente.

Tal evento cessa após a criança completar 1 ano, idade esta em que o trato gastrointestinal já está mais desenvolvido. Ainda também em virtude de um trato gastrointestinal não totalmente desenvolvido, o consumo de LVI tem sido relacionado como um fator predisponente no aparecimento da alergia a proteína do leite de vaca, uma condição que afeta 0,4% a 7,5% das crianças de 0 a 2 ano de idade.

 

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Além disso, a exposição precoce da criança ao LVI aumenta o risco, não somente de reações adversas a este leite, como também de alergias a outros alimentos. Outro risco associado a sua ingestão é o de desenvolver uma sobrecarga renal, com distúrbios de eletrólitos e com elevação de sódio no sangue.

Apesar das funções metabólicas e excretoras do lactente normal acima de 6 meses de idade estarem mais maduras e, na maioria das vezes, poder suportar bem esta sobrecarga, a margem de segurança continua sendo maior quando o alimento é o leite materno ou algum fórmula modificada.

A partir dos seis meses, o uso somente de leite materno não supre todas as necessidades nutricionais da criança

Existe ainda o risco de deficiência de cobre, zinco, vitamina A, C, E , ácido fólico e gorduras essenciais (ômega 3 e ômega 6), principalmente quando se utiliza o LVI muito diluído. Deficiências de algumas vitaminas podem ser ainda agravada pelo processamento térmico do leite.

A partir dos seis meses, o uso somente de leite materno não supre todas as necessidades nutricionais da criança, tornando necessária a introdução de alimentos complementares. Também é a partir dessa idade que a maioria das crianças atinge estágio de desenvolvimento geral e neurológico (mastigação, deglutição, digestão e excreção), que as possibilitam receber outros alimentos,além do leite materno

Alimentação complementar é o conjunto de outros alimentos, além do leite materno, oferecidos durante o período de aleitamento.

 

Alimentos complementares

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Esses alimentos devem ser oferecidos, inicialmente, em forma de papa, passando para pequenos pedaços e, após os doze meses, na mesma consistência dos alimentos consumidos pela família.

Os alimentos complementares, anteriormente designados “alimentos de desmame”, podem ser chamados de transicionais, quando são especialmente preparados para acriança pequena, até que ela possa receber os alimentos consumidos pela família (em torno dos 9-11 meses de idade). Esses alimentos devem ser oferecidos, inicialmente, em forma de papa, passando para pequenos pedaços e, após os doze meses, na mesma consistência dos alimentos consumidos pela família.

O período de introdução da alimentação complementar é de elevado risco para a criança, tanto pela oferta de alimentos inadequados, quanto pelo risco de sua contaminação, devido a forma de preparo, favorecendo a ocorrência de doença diarréica e desnutrição. As mães, durante este período, devem ser orientadas, pois a higiene é de fundamental importância e deve ser orientada por profissionais da área de saúde.

A sugestão é que as frutas, em forma de suco e papinhas, sejam a primeira novidade na dieta do bebê. Na parte da manhã, depois da primeira mamada do dia,a mãe deve oferecer uma dose bem pequena de suco (por volta de 30 ml) com uma colherinha de plástico ou silicone.

É importante, a partir de agora, oferecer água potável

É importante, a partir de agora, oferecer água potável, porque os alimentos oferecidos ao lactente apresentam maior sobrecarga de solutos para os rins. Os sucos, oferecidos nos intervalos das mamadas, devem ser de frutas ricas em vitaminaC, pois essa vitamina tem um poder maior de absorver o ferro dos outros alimentos. Mas isso não quer dizer que não possa ingerir sucos deoutras frutas, é interessante variar. O importante é ter paciência e experimentar diversos sabores, observando qual o que lhe agrada mais.

De início, pode ser que ele não aprecie muito o gosto, mas vale a pena insistir para, aos poucos, ir educando o paladar da criança. Pode demorar até dez tentativas para ela aceitar a novidade

Cada alimento precisa ser introduzido aos poucos e de preferência um por vez. O bebê precisa de tempo para se acostumar aos novos gostos e à consistência dos alimentos. Além disso, a introdução gradual de diferentes alimentos possibilita a identificação de sinais de uma possível reação alérgica, como a presença de diarréia, dores de barriga ou manifestações cutâneas. Experimente um alimento novo a cada dois ou três dias, começando com frutas e depois introduzindo também legumes e verduras, que são mais fáceis de digerir do que as carnes.

 

Papinhas Salgadas

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A primeira papa salgada deve ser oferecida, entre o sexto e sétimo mês, no horário de almoço ou jantar, podendo ser utilizados os mesmos alimentos da família, desde que adequados às características do lactente, completando-se a refeição com a amamentação, enquanto não houver boa aceitação.

Tal refeição deve conter alimentos dos seguintes grupos5, 6,7:

  • Cereais e tubérculos;
  • Leguminosas;
  • Carne (vaca, frango, porco, peixe ou vísceras, em especial, o fígado);
  • Hortaliças (verduras e legumes).

Óleo vegetal (preferencialmente de soja) e sal devem ser usados em menor quantidade, assim como, devem-se evitar caldos e temperos industrializados.

É importante dar preferência às composições de cardápios onde se encontrem um tubérculo ou cereal associado à leguminosa, proteína de origem animal e hortaliça ou vegetal. A papa deve ser amassada, sem peneirar. A carne não deve ser retirada, mas sim, picada e oferecida à criança.

 

Planejamento da papa salgada:

 

Os alimentos na mistura devem conter os seguintes grupos alimentares: cereal ou tubérculo, alimento proteico de origem animal, leguminosas e hortaliças. O tamanho destas porções segue a proposta da pirâmide dos alimentos

A alimentação complementar, embora com horários mais regulares, deve inicialmente, seguir o modelo que vinha acontecendo no período do aleitamento materno, no sentido de continuar permitindo a atuação do mecanismo fisiológico da regulação da ingestão alimentar. Assim, será mantida a percepção correta das sensações de fome e saciedade, característica imprescindível para a nutrição adequada, sem excessos ou carências.

Devem ser evitados alimentos industrializados pré-prontos, refrigerantes, café, chás, embutidos, entre outros. A oferta de água de coco (como substituo da água) também não é aconselhável, pelo baixo valor calórico e por conter sódio e potássio.

No primeiro ano de vida, não usar mel. Nessa faixa etária podem causar botulismo.

 

 

Algumas Referências Bibliográficas:

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Brasília. Ministério da Saúde. Organização Pan-americana de Saúde. Dez passos para uma alimentação saudável. Guia alimentar para crianças menores de 2 anos – Brasília. Ministério da Saúde, 2002.

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