Cuidado com a soja

Eliane Petean Arena
Nutricionista

Originaria da Ásia, especificamente da China, a soja pertence à família das leguminosas, ou seja, é prima do feijão, da lentilha, ervilha e do grão de bico. É rica em proteínas, lipídios, fibras e sais minerais, além de conter vitaminas do complexo B, um item pouco presente nos alimentos de origem vegetal.
O grão de soja pode ser consumido como substituto de outras leguminosas (feijão, grão-de-bico, lentilha), complementando pratos de saladas ou de vegetais, de forma geral. Na indústria são utilizados na produção de farinha, proteína texturizada, óleo, extrato e fórmulas infantis. Atualmente, nosso país produz cerca de 75 milhões de toneladas de soja.
A soja não é novidade, nem tampouco é uma desconhecida da população, mas recentemente, ela vem ganhando espaço na indústria alimentícia que viu, nesse pequeno grão, um novo filão para vender saúde, principalmente para o público feminino.
As isoflavonas, um dos componentes da composição da soja é um fitoquímico capaz de diminuir os sintomas da menopausa. Pelo fato de participar da produção, do metabolismo e da ação dos hormônios sexuais, as isoflavonas atuam como um substituto do estrógeno (hormônio que sofre notável queda no período do climatério) e contribuem para a manutenção do equilíbrio hormonal da mulher.
O fósforo, outro nutriente que auxilia na manutenção do cálcio nos ossos, também é muito presente neste grão. Outro componente da soja é a boa quantidade de vitamina K que é necessária para o mecanismo de coagulação sanguínea.
Muitos são os benefícios da soja, e como é um alimento funcional, ela pode atuar em várias funções orgânicas. Além de também possuir atividade anticancerígena, principalmente câncer de mama e próstata, ela tem atividade antioxidante, envelhecimento precoce. Além disso, é usado na osteoporose na redução do colesterol. Outros elementos importantes da sua composição são a vitamina E, que combate o envelhecimento; a saponina, que previne esclerose das artérias; a lecitina que ativa as células do cérebro; as fibras, que ajudam no funcionamento do intestino e o cálcio que fortalece os ossos. Por ser rica em fibras, a soja ajuda a melhorar o trânsito intestinal, evitando problemas como a constipação e a prisão de ventre. Uma porção pequena do alimento possui 37% das necessidades diárias deste nutriente.
Em encontrada de diversas formas de apresentação, a soja pode ser consumida como farinha, em grão, assada, na versão do leite, no tofu e em variadas receitas que ultimamente vem se multiplicando para facilitar a vida das donas de casa.
Apesar de todas as qualidades, ideias e benefícios, a soja não deve ser consumida, em grandes quantidades, diariamente, como um alimento básico do cotidiano. O Ministério da Saúde recomenda o uso de uma quantidade diária máxima de uma concha de soja por dia, o equivalente a cerca de 100 gramas. O ideal é procurar restringir o consumo para três vezes por semana, devido à alta quantidade de isoflavonas que, por terem efeito semelhante ao hormônio feminino, podem causar problemas quando ingeridas em excesso. A orientação vale tanto para homens quanto para mulheres.
Embora seja, por definição, um alimento completo, rico em proteína, carboidratos, ácidos graxos e vitaminas a verdade é que, a menos que seja preparada da maneira correta, a soja é um veneno para a delicada bioquímica do corpo humano.
O fato é que existe um elevado conteúdo de anti nutrientes na soja que não é devidamente preparada. Anti nutrientes são substâncias que interferem na absorção de nutrientes pelo organismo e seu consumo freqüente conduz a deficiências crônicas de minerais no corpo. Além disso, ela também contém altas quantidades de várias toxinas químicas que não podem ser completamente destruídas nem por um longo cozimento. São: fitatos, que bloqueiam a absorção de minerais pelo corpo; inibidores de enzimas, que atrapalham ou impossibilitam a digestão de proteínas e hemaglutinas, que fazem as células vermelhas do sangue se aglutinar, inibindo a absorção de oxigênio e o crescimento.
E não bastasse a soja contém altos níveis dos fitoestrógenos (também conhecidos como isoflavonas) genisteína e daidzeína, que emulam e às vezes bloqueiam o hormônio estrógeno.
Quando ingeridas em exagero, estas substâncias produzem desarranjo gástrico, redução na capacidade de digestão das proteínas e deficiências crônicas de aminoácidos.
Pessoas com hipotireoidismo também devem estar atentas ao consumo de soja. Isto porque existe o risco teórico do grão dificultar a formação dos hormônios tireoidianos. Enquanto os estudos não determinam o exato efeito dos produtos à base de isoflavonas da soja no metabolismo de hormônios tireoidianos, o uso excessivo deve ser visto com atenção e orientado pelo nutricionista.
Em ultima análise, a melhor forma de consumir a soja, é a sua versão fermentada, isso porque essa apresentação não sofre nenhum tipo de processamento. Os produtos de soja mais recomendáveis são o missô, o tamari, o tempê e o nattô, os quais devem ser originados de grãos orgânicos, e não modificados geneticamente. Tofu não deveria ser usado como substituto para a carne, mas, no máximo, ingerido em pequenas quantidades, como um condimento, assim como fazem as culturas asiáticas que deram origem a ele.
Quando ingerida de forma adequada, a soja tem seus valores nutricionais. O que torna preocupante é a “febre da soja”, ou seja, a maneira alucinada com que pessoas estão passando a consumir esse alimento, sem avaliar as consequências.
Equilíbrio, em tudo na vida: essa é a chave da saúde e ponto final.